EditorialSistemas operacionais

O que você ainda não entendeu sobre Linux

Existe uma grande confusão ainda sobre “o mundo Linux”, como a gente chama, e que eu acho necessário desfazer, ou ao menos tentar desfazer. A maior parte de vocês entende que Linux é um Kernel, mas talvez não entendam o que isso realmente significa. O último vídeo do Diolinux Responde, o quadro de perguntas e respostas do canal, recebeu um comentário que me fez querer fazer este material.

Como você pode ver, o comentário na verdade não tem nada demais, eu até concordo com o Thiago, que fez o comentário em alguns pontos, porém, quero aproveitar a forma com que ele colocou a sua opinião para explicar para você o que é Linux realmente.

A intenção por trás disso é fazer com que você entenda quem você deve cobrar num caso como este.

Eu vejo muitos comentários deste tipo por aí:

– Por que Linux não compatibiliza com os programas do Windows?

– Por que Linux não é compatível com programas da Adobe?

– Por que Linux não entra no mercado de celulares?

– Por que Linux não investe em interfaces convergentes?

– Por que Linux não faz drivers para a Razer?

– Por que Linux não faz uma assistente pessoal como a Cortana ou a Siri?

– Por que Linux não faz isso? Por que não cria aquilo?

Acho que deu pra você entender o ponto, será que é  por falta de vontade, competência ou dinheiro ou realmente tem algo mais? 

Será que você não está levantando este questionamento simplesmente pelo fato de você ainda não ter entendido o que realmente Linux é ou qual é a sua área de atuação?

Saber isso é importante, não para que você não cobre “o Linux” para ter as coisas que você queria, mas para que você cobre as pessoas e projetos certos.

Eu acho que uma forma simples de você entender é comparar sistemas operacionais com carros.

Como você já deve ter ouvido falar, Linux é um Kernel, o Kernel é uma parte de um sistema operacional que pode ser considerada o núcleo dele, é onde estão os drivers de dispositivos, é a parte do sistema operacional que faz com que os programas que você usa consigam acessar recursos de hardware, ele é o responsável por fazer com que a musica que você está executando em um player seja transmitida para as caixas de som do seu computador, e este é só um exemplo.

Podemos comparar o Kernel ao motor e a parte elétrica de um carro

O kernel seria um dos componentes principais do carro, no sentido de fazer ele andar, claro, e também seria responsável por fazer o computador de bordo do carro funcionar; quando você aperta um botão para ligar o ar condicionado, o Kernel faria com que ele ligasse.

É isso que o Linux é, um Kernel “apenas”, diferente da Microsoft e da Apple que vendem o carro inteiro para você, e entenda como um carro o Windows e o outro carro o macOS, Linux é apenas o motor.

Você não deveria cobrar o fabricante do motor pelo carro não vir com airbag, pelo simples motivo do fabricante do motor não ser o cara que coloca airbag no carro, não é ele quem decide.

Microsoft e Apple tem o monopólico completo de seus sistemas operacionais, do Kernel aos ícones, então a empresa tem a capacidade de modificar absolutamente tudo o que quiser.

Já o Linux, bom… podemos resumir os objetivos de Linus Torvalds, criador do Kernel e líder mantenedor atualmente, juntamente com a sua equipe, em apenas 3 coisas a cada lançamento.

– Otimização

– Limpeza de código antigo (que não deixa de ser otimização)

– Suporte a novos hardwares

Um carro completo, que use o motor Linux é chamado de distribuição, o Android, o Ubuntu, o Debian, o Red Hat, o SUSE são exemplos de carros que usam o motor Linux.

Se o que você deseja é um recurso gráfico, uma ferramenta para o desktop, você deve cobrar os projetos que realizam esse tipo de coisa. Se você quer uma assistente pessoal, cobre as distros e não o Kernel.

Talvez associar o Kernel Linux como o motor e o carro completo como uma distro que usa componentes de vários outros fabricantes independentes faça você entender que uma distro Linux é normalmente criada de forma segmentada. O pneus vem de um fabricante, o volante vem de outro, a transmissão vem de outro, os bancos vem de outro, a carenagem vem de outro, etc…

Então se você quer um recurso novo para o volante do seu carro, além de cobrar a distro, você pode cobrar o fabricante do voltante em si.

Exemplo: Você quer que o leitor de PDF da sua distro tenha suporte a edição de PDF também, você pode cobrar a distro que empacota este software para encontrar uma solução para o problema, ou pode cobrar diretamente a comunidade ou empresa que desenvolve o leitor de PDF.

Uma vez entendida a situação, isso nos leva a outro ponto. Que é a cobrança.

Cobrança

Eu falei muito em cobrar, mas acho que é preciso fazer algumas considerações sobre o assunto.

O que significa “cobrar”, do meu ponto de vista, se você quer algo de diferente, vá e entre em contato com os desenvolvedores, ou ao menos tente. Entre no site do projeto, mande e-mails, procure descobrir quem trabalha nele e procure contatos no Linkedin, no Facebook, em blogs pessoais, em fim, quando você realmente quer ajudar a melhorar você provavelmente vai encontrar um jeito. Isso pode até fazer com que você crie uma nova e boa network de contatos.

Outra consideração importante a se fazer é que você tenha a noção de que a maior parte destes projetos é tocada por voluntários e doações, o Debian, o Ubuntu, o Mint, acredito que eles nunca tenham te cobrado para que você pudesse baixar o sistema operacional deles, mesmo que sejam poucos dólares ou reais, você sempre pode baixá-los gratuitamente e pode desfrutar de seus recursos e segurança.

Aí eu vi em algum comentário alguém dizendo que “não é porque alguém nos oferece merda de graça que a gente tem que aceitar”.

Não com certeza, não, até porque não é nem uma comparação coerente, especialmente porque ninguém está te obrigando a utilizar nada, se não está do seu agrado, se está ruim, você sempre terá a liberdade de experimentar outra coisa e mudar.

Eu apenas acho que é bom ter a compreensão de como as coisas funcionam, aprender a se colocar no lugar dos outros é um ótimo exercício, e não digo apenas no mundo Linux.

Pegue o seu emprego como exemplo, você trabalharia de graça ou sem saber exatamente quanto vai receber apenas para ajudar as pessoas? É uma pergunta que requer um pouco de reflexão sem dúvida, e eu não vou fechar esse ponto aqui, então você pode usar os comentários para responder se quiser.

Por mais altruísta que você possa ser, acima de tudo você é um indivíduo com necessidades próprias, e nada é de graça. 

Se você tiraria um pouco do seu tempo para criar algo e dar de graça para pessoas eu não sei dizer, mas é exatamente isso que muitas das comunidades Linux fazem, acho que é algo para se pensar… não utilize isso que eu falei como argumento para não cobrar, mas use para cobrar de uma forma mais educada quem sabe, não esqueça que essas pessoas que fazem os programas que você usa, cada um deles, cada ícone, também SÃO PESSOAS como você, com seus próprios problemas e afazeres e muitas vezes fizeram esse programa indispensável para sua vida tirando dinheiro do próprio bolso, ou usando o seu tempo livre, que pra mim é praticamente a mesma coisa.

O que nos leva a outro ponto pra finalizar, não faz sentido você ser contra as pessoas ganharem dinheiro fazendo o que gostam e ajudando outras pessoas. Acho que inconscientemente a gente tem a noção de que quando estamos ajudando não podemos cobrar por isso, mas cobrar uma quantia justa pode ajudar a tornar aquele produto ou serviço ainda melhor e ainda assim a um preço acessível e ajudar ainda mais pessoas e de forma melhor, incluindo quem desenvolve que pode melhorar de vida.

Você provavelmente não acha que seria pagar muito, pagar digamos, uns 10 reais pela distribuição que você mais gosta, muitos talvez até topariam pagar muito mais que isso, mas é muito provável que você nunca tenha doado nem se quer 1 real para o projeto que você cobra de que existam funcionalidades. 

Não é uma desculpa, é uma questão de lógica, você já deve ter ouvido a famosa frase, “não existe almoço grátis”, é bem por aí. Claro que essa não é a única forma de ajudar, financeiramente, você pode ajudar simplesmente divulgando também

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